Atonus et Mundus, uma história familiar

Ópio era um rapaz atônito. Ele mesmo não sabia o que atônito era. Talvez seja esse o motivo de sua atonicidade.
Se perguntado o seu estamento, diria que não estava feliz, nem triste. Apenas vivendo.
— Mas você está morto!
Alguém diria, não conseguindo "engolir" o fato de que Ópio era tão vago para expressar.

Esse alguém era Cérebrus, um rapaz tão cheio de lógica.. oh, ele prefere não ser definido assim! Acha insultoso. Devo chamá-lo de perfeição? Não, também? Só nos fins de semana?

Artista: Aubrey Beardsley


Você também é cheio de tudo, Cérebrus? Quer competir com Ópio? Ao dizer isto, eu fico calada esperando uma resposta e me deparo  com os dois repousando seus olhares no chão. Um estava constrangido e, o outro, aflito - arregalados olhos tomavam a forma de jabuticabas que estavam na árvore, alí perto.

Embora os sentimentos parecessem idênticos, um sentia culpa, e o outro não. No fundo, toda a humanidade parecia concordar que não há o que se fazer sobre uma questão - não agiam, e suas palavras se tornavam a realidade. Cerebrus diria que não há o que fazer até que alguém faça.

Mas é um fazedor de frases de efeito! Este mesmo filho que se encontrava desolado e apropriado como semi autor do estado em que sua mãe profundamente em seu ser se colocou sozinha.

Giorgio de Chirico, poesia
Artista: Giorgio de Chirico


— Sozinha, não, pera!
Ópio fica indignado e agora seus olhos saltam de vontade de fazer os meus virarem, para que eu reformule minha opinião.
— Está lendo meus pensamentos narrativos somente para dizer o que eu já sei?
Viro-me para ele, tentando, com a expressão de meu rosto, tirar o ar cortante costumeiro de minhas frases.
— Eu sei que é parte decisão dela, parte decisão do mundo. Eu gostaria de colocar a culpa em ninguém.
Todos nós ficamos em silêncio e sentimos uma brisa fria nos enlaçando como um abraço rápido.
— Mas a culpa é dela, e nossa, e do ar.
Cérebrus solta esta frase com um ligeiro sorriso lateral.
— Sozinha ou não, culpada ou não, como partes essenciais de sua família, devemos ir até o seu recanto e enchê-la dos mais preciosos momentos que esta vida pode nos dar.
Um silêncio concorda com o sol.
— Nós amamos a mamãe, tanto.
Ópio deixa a boca mais solta que a do irmão e sorri com os dois lados da boca esticados.
Os três parentes estão indo, agora, para um lugar bem longe, com pressa, tocar suas mãos naquela mão que é o motivo de suas vidas. Por que eles não estavam lá antes?

Lavínia estava morrendo. Sua casa era feita de pano com madeira envelhecida. Repentinamente, teve o azar de encontrar o bicho papão debaixo de sua cama, antes de dormir. Sua família providenciou um funeral na manhã seguinte. Atônitos, choraram. Mas, depois, lembraram-se de quem lhes devia dinheiro - e saíram correndo afim de cobrar os devedores.

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