Seu Vigário era um jardineiro.
Estava em uma festa onde, na parte de trás do salão, havia um jardim com bancos para descansar. Foi se acalmar no meio do verde.
Olhou para o luar e recitou seu maior desejo:
“Não é que eu esteja implorando por algo, não, vida sofrida
Mas, se você me der, eu irei ficar feliz da vida”
Dito isto, alguém gritou um nome em direção à ele.
“Hermes! Senhor Hermes. O senhor não ia comparecer à reunião?”
Seu vigário arqueou a sobrancelha, e após ver que era o único no ambiente além do homem de terno que apareceu o chamando, respondeu: “Eu gosto de reuniões“.
“Eu sei que o senhor gosta, senhor Hermes! Está atrasado!”, o assistente adiantou, fazendo sinal com a mão para que o seguisse.
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Lá dentro de uma grande sala, foi dito: “Nós precisamos de sua assinatura para lançarmos um produto – te damos 700 mil reais agora!”
“Como seria esse produto?” Seu Vigário perguntou de forma calma.
“Ele mudaria a vida de todo mundo na região” o homem que estava no centro da mesa o olhava sério.
“Quais seriam os prejuízos?”
O homem pareceu assustado com a pergunta.
“Como assim, Hermes? Por que se importa?”
Vigário manteve-se calado e não mexeu-se.
“Se eu me importar com o que está fora do meu foco, eu não vivo” continuou o que havia feito a interrogação.
“Porque o prejuízo mostra o benefício, na forma mais realista possível.”
Essa fala fez com que o outro pensasse, olhando para baixo.
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Vigário agora olhava, pela janela, o jardim. Era interligado ao mato com sua alma. Decerto, ele precisava do oxigênio emitido pelas plantas para respirar.
“Eu não sou médico, ou cientista, para detalhar as agressões ao corpo humano” - o empresário que tentava convencê-lo demonstra a sua impaciência recém adquirida.
Jogou levemente um papel de sua mesa para o colo do que, de pernas cruzadas, faria acordo com ele.
“Eu irei fazer com uma condição” – sua atenção se focara em uma abelha, que gentilmente colocava as patas sobre o miolo da flor.
Atentou-se novamente ao cômodo. Seus olhos bateram como as asas do inseto sob a folha, de maneira rápida e precisa.
...“Vou colocar ingredientes mais caros nessa fórmula”.
O ouvinte franze o cenho em desaprovação.
No ar, é possível sentir que tudo irá se acabar.
“...Para que os clientes fiquem mais viciados ainda.” Vigário continuou, e antes de terminar a última sílaba, sorriu.
O homem fez-se contente.
Os outros, que estavam por perto, também.
Antes calados, no término parabenizam como se tivessem participado.
A abelha sugava o néctar. As antenas da mesma encostavam na flor - porém, a língua e os pêlos por todo seu corpo é que armazenavam o pólen.
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O jardineiro assina os papéis.
Não fez curso – aprendeu a cortar as folhagens de sua casa porque a mãe se alegrava quando via o seu jardim cuidado.
Se importava com os outros seres humanos como se fossem seus irmãos. Como exemplo de um jardim onde a presença de flores noturnas atrai os insetos que se movem à noite, engrandecendo a fauna, ao invés do diminuto conjunto das de dia.
“Senhor Hermes!” - o assistente entrou - “Prevejo através da animação de vocês que correu tudo de forma magnífica!”
“Venha, depressa! Precisamos de sua opinião para elaborar um relógio de torre.”
O novo Hermes levantou-se e foi andando lado a lado com o seu novo amigo, perguntando se ele também gostava do simbolismo de um relógio grande no espaço físico, apesar de na era atual ser mais comum olhar a hora digitalmente.
O empresário da mesa olhou para a sua grande casa através da janela. O barulho de uma abelha zumbindo invade o ambiente. Enquanto olhava, inesperadamente, um carro de luxo de um milionário bêbado perde o controle e atinge sua casa em um ponto onde a parede era crucial para manter a estrutura de pé, fazendo com que todo o resto caísse. Seus dedos apertam a mesa reta onde não há em que segurar. A intensidade que fora colocada em seu movimento, volta em ondas para o seu próprio corpo que o fez. Arregalam-se os olhos dos assistentes da mesa - abrem a boca, e em conjunto, levantam-se e saem sem dizer uma palavra.

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